É comum avaliarmos a inteligência de alguém pelas respostas que a pessoa oferece. Mas, talvez, uma forma ainda mais eficaz seja avaliar com base nas perguntas que essa pessoa faz.
Na imagem, mais de 30 bilhões de dólares estavam "sentados” diante da plateia no Hall B do Harvard Science Center. Talvez, por esse motivo, o painel foi o mais esperado pelo público da Brazil Conference.
De um lado, Jorge Paulo Lemann, com semblante bastante sereno — seja pelos 85 anos de idade ou por estar de volta na faculdade em que se formou — e, do outro, Brad Jacobs, um pouco mais novo e naturalmente mais agitado.
Ao contrário do que todos esperavam ver, Jorge Paulo não foi o foco do painel. Lemann, na verdade, estava prestes a exercer o papel incomum de entrevistador.
Uma oportunidade rara e única que os alunos das principais faculdades americanas (Harvard, Duke, Stanford, MIT e Columbia) tiveram de ver o brasileiro em um espectro que só poderia ser criado artificialmente com um prompt na AI.
"Me entreviste como se você fosse o Jorge Paulo Lemann”
Isso porque — e você pode comprovar — não há nenhuma entrevista disponível no Google que tenha Jorge Paulo como quem faz as perguntas, somente como quem responde.
Sabendo estar diante de jovens de 18 a 34 anos, Lemann iniciou a conversa curto e direto: “Brad, how was your youth?”.
Não que a resposta de Jacobs aqui seja indiferente, mas a cada pergunta, Lemann demonstrava mais a importância de saber perguntar — algo comumente menosprezado por nós, mais novos, geralmente cheios de certezas.
FOLLOWING QUESTIONS:
“What was your dream back then and what is your dream now?”
“What is your edge — that thing that makes you different?”
“What mistakes did you make?”
“How do you find and keep the people?”
“What keeps you going?”
“How do you balance work with personal life?”
Em uma era dominada por tutoriais, fórmulas prontas e manuais, aos seus 85 anos, Lemann ensinou que saber perguntar verdadeiramente pode valer mais que ter todas as respostas antes dos 30.
Diferente de outros entrevistadores, ele não quis mostrar a esperteza de quem queria vencer um debate, mas a sabedoria de quem quer realmente entender o outro — talvez até desvendá-lo.
O resultado foi um cenário mais próximo de uma mesa de almoço de domingo entre dois amigos e uma plateia encantada e imóvel:
Quem pergunta sobre infância quer entender valores.
Quem pergunta sobre sonhos quer saber de ambição.
Quem pergunta sobre “edge” quer captar diferenciais competitivos.
Quem pergunta sobre erros quer mapear humildade e aprendizado.
E quem pergunta sobre o que te move... Quer saber se você ainda tem fome.
Sem querer, foi Lemann quem se tornou o protagonista. Para fechar, o brasileiro pediu um conselho de Brad Jacobs aos mais jovens ali presentes.
A resposta foi direta: “Figure out what you really want to do in life.”.
No contexto daquele palco, essa frase soou menos como uma resposta — e, ironicamente, mais como a pergunta final.
A pergunta que Lemann, com sua calma provocadora, parecia querer deixar ecoando no auditório: Você sabe mesmo o que quer da sua vida?
Quando um bilionário entrevista outro, preste atenção nas perguntas.
Às vezes, elas valem mais do que qualquer resposta.
A grande questão é:
Se suas perguntas tivessem valor, qual seria o seu patrimônio?