
Por A Voz de Campos RJ | 02/06/2025 – Campos dos Goytacazes
A dor de uma perda irreparável se transformou em clamor por justiça na tarde desta segunda-feira (2), quando familiares de Ivanildo da Silva Felizardo , de 60 anos, organizaram uma manifestação em frente à Usina Canabrava , na rodovia RJ-224, em Campos dos Goytacazes. O protesto teve como objetivo denunciar o silêncio das autoridades e da empresa após a trágica morte do trabalhador, ocorrida no dia 7 de maio , durante uma queimada em um canavial da região.
Morador do Parque Santa Rosa , em Guarus, Ivanildo havia iniciado as atividades no corte da cana poucos dias antes do acidente. Segundo relatos da família, embora ele estivesse trabalhando de forma não registrada, a assinatura de sua carteira teria sido oficializada justamente no dia de sua morte.
"Ele começou a trabalhar há três ou quatro dias. Pelo que nos informaram, só teve a carteira assinada no mesmo dia em que faleceu. Isso mostra o descaso com a vida dele", relatou a irmã da vítima, durante o ato.
A manifestação, transmissão e transmissão de emoção chamou a atenção de quem estava passando pela rodovia. Familiares exibiram cartazes com frases como “Justiça por Ivanildo” e “Trabalhador não é comprometido” , enquanto cobravam a responsabilidade da usina e das empresas envolvidas na queima.
"Ninguém da empresa veio conversar com a família. Nenhuma explicação. E queremos entender: por que iniciar uma queima às 10h da manhã, quando isso é proibido por lei? Cadê a fiscalização? Quem estava cuidando dos trabalhadores naquele momento?", questionou a irmã, emocionada.
Tragédia sob investigação
O incidente foi registrado pelo 2º Destacamento de Bombeiro Militar (DBM) , que foi acionado por volta das 15h45 para atender a ocorrência de incêndio em focos nas proximidades da usina. Ao chegarem ao local, os agentes resgataram Ivanildo já sem vida. Um segundo trabalhador também ficou ferido.
O caso está sendo investigado pela 146ª Delegacia de Polícia (Guarus) . Segundo o delegado titular, Ronaldo Cavalcante , a vítima fez o corte da cana-de-açúcar a serviço de uma empresa. A polícia apura que houve falha de comunicação entre prestadoras de serviços contratadas para o corte e para a queima da mão.
"Há promessas de que o fogo foi iniciado enquanto ainda havia trabalhadores no local, o que caracteriza, no mínimo, negligência. Estamos apurando se houve autorização ambiental para a queimada, se os protocolos legais foram cumpridos e de quem é a responsabilidade direta", declarou o delegado na época.
Ainda de acordo com a autoridade policial, o caso está sendo tratado, inicialmente, como morte por culpa , e uma perícia foi realizada no local. Até o momento, porém, nenhuma atualização oficial foi divulgada .
Empresa e autoridades em silêncio
A equipe de reportagem de A Voz de Campos RJ tentou contato com a Usina Canabrava para obter um posicionamento sobre o caso, mas não houve retorno até a publicação desta matéria . A redação também buscou a Delegacia de Guarus para atualizações da investigação, sem sucesso.
Enquanto isso, a família de Ivanildo cobra respostas concretas.
"Meu irmão saiu para trabalhar e voltou sem vida. Não podemos aceitar que isso caia no esquecimento. Queremos justiça e respeito pela vida de quem levanta este país com o suor do rosto", desabafou a irmã.
O caso reacende a discussão sobre as condições de segurança no trabalho rural , especialmente em atividades de alto risco como o corte e a queima da cana-de-açúcar. A comunidade segue mobilizada para que o caso não seja tratado como um episódio isolado, mas como alerta para mudanças urgentes no setor.